
Introdução
Em meio ao concreto, ao trânsito intenso e à pressa típica das grandes cidades, a Igreja da Candelária ergue-se como um porto de serenidade no centro do Rio de Janeiro. Sua cúpula imponente e fachada de granito chamam a atenção de quem passa, seja por motivos de fé, turismo ou simples curiosidade.
Muito mais que um templo católico, a Candelária é um símbolo histórico e artístico, cuja trajetória atravessa diferentes períodos do Brasil — do período colonial ao atual. Cada pedra, cada afresco e cada detalhe arquitetônico guarda fragmentos de histórias, devoções e acontecimentos que marcaram não apenas o Rio de Janeiro, mas todo o país.
Sua construção é fruto de uma promessa feita em alto-mar e, com o passar dos séculos, foi se tornando um ponto de referência religiosa, social e cultural. Mas a Candelária não vive apenas de seu passado glorioso: ela continua sendo palco de celebrações religiosas, eventos culturais e também de episódios que provocaram reflexões profundas na sociedade.
Este artigo propõe uma imersão completa nesse monumento, explorando sua origem lendária, as etapas de construção, o estilo arquitetônico, as obras de arte que abriga, as curiosidades e a importância que possui até hoje no cenário carioca e brasileiro.
História
A história da Igreja da Candelária é indissociável da lenda de sua fundação, que remonta ao início do século XVII. O casal português Antônio Martins Palma e Leonor Gonçalves embarcou em uma viagem que mudaria o destino de suas vidas e, por consequência, o da cidade do Rio de Janeiro.
Eles viajavam a bordo do navio Candelária quando foram surpreendidos por uma violenta tempestade no Atlântico. As ondas castigavam a embarcação, e a escuridão da noite, aliada à força dos ventos, parecia anunciar um trágico naufrágio.
Em um ato de fé e desespero, o casal fez uma promessa a Nossa Senhora da Candelária: caso fossem salvos, ergueriam um templo em sua homenagem na cidade de destino. A tempestade cessou, o navio sobreviveu e, como manda a tradição católica, a promessa foi cumprida.
Por volta de 1630, a primeira capela foi construída no local onde hoje se encontra a atual igreja. Era uma estrutura simples, feita de taipa e coberta com palha, mas carregada de significado espiritual. Ali começava uma devoção que, séculos depois, se transformaria em um dos mais belos templos do país.
Primeiras Reformas e Crescimento
Com o crescimento acelerado do Rio de Janeiro ao longo do século XVIII, a pequena capela original já não atendia à demanda dos fiéis. A Igreja da Candelária tornou-se, então, alvo de um ambicioso projeto de ampliação para acompanhar o desenvolvimento da cidade, que se consolidava como um importante centro administrativo e comercial da colônia. O centro urbano expandia-se rapidamente, e a devoção a Nossa Senhora da Candelária crescia entre comerciantes, marinheiros e famílias influentes que habitavam a região.
Para atender a essa crescente demanda, diversas doações foram feitas com o objetivo de financiar a construção de uma nova e maior Igreja da Candelária. Em 1775, foi lançada a pedra fundamental que marcaria o início das obras da igreja que hoje é um dos mais importantes patrimônios religiosos do Brasil.
Apesar da grandiosidade do projeto inicial, inspirado nas grandes catedrais europeias, a construção da Igreja da Candelária enfrentou inúmeros desafios. A escassez de recursos financeiros, as frequentes mudanças de mestres de obras e as instabilidades políticas da época atrasaram consideravelmente o andamento das obras.
Mesmo com todas as dificuldades, a antiga capela foi gradualmente substituída pela monumental Igreja da Candelária que conhecemos hoje, um edifício que reflete uma mistura rica de estilos arquitetônicos devido às diversas fases de sua longa construção, que se estendeu por mais de um século.

Arquitetura: Um Encontro de estilos
A Igreja da Candelária é um exemplo clássico de arquitetura eclética, nascida da combinação de períodos distintos de construção.
A fachada principal, voltada para a Avenida Presidente Vargas, é marcada pelo neoclassicismo, com colunas coríntias e um frontão triangular imponente. Esculturas e elementos decorativos completam a composição, transmitindo sobriedade e elegância.
As influências barrocas e rococó aparecem no interior, especialmente nos altares e detalhes talhados. O barroco se destaca pelo uso de ouro, formas curvas e dramaticidade na composição. Já o rococó aparece nas linhas mais suaves e ornamentos delicados.
A cúpula central é uma das maiores do Brasil e se tornou referência visual no centro do Rio. Revestida em granito, com janelas que permitem a entrada de luz natural, ela é coroada por uma cruz que pode ser vista a quilômetros de distância.
Essa mescla de estilos faz da Candelária não apenas uma igreja, mas uma obra de arte arquitetônica que atrai tanto fiéis quanto estudiosos e turistas.
Interior: Um Museu Vivo de Arte Sacra
Ao atravessar as portas da Igreja da Candelária, o visitante é imediatamente transportado para um universo de beleza e espiritualidade. O silêncio reverente contrasta com o burburinho das ruas do centro, e a luz filtrada pelos vitrais cria um ambiente quase místico.
Afrescos: a Bíblia pintada no teto
O grande destaque visual é, sem dúvida, o conjunto de afrescos que cobre o teto e a cúpula. Pintados por João Zeferino da Costa, artista renomado da segunda metade do século XIX, os afrescos narram episódios da vida de Maria e de Jesus, seguindo a tradição europeia de “ensinar pela imagem” em um período em que boa parte da população era analfabeta.
Entre as cenas mais admiradas, destacam-se a Apresentação de Jesus no Templo e a Purificação de Maria, ambas ligadas ao simbolismo da festa de Nossa Senhora da Candelária. As cores vibrantes e a riqueza dos detalhes revelam a maestria do artista, que utilizou técnicas de perspectiva para dar profundidade às imagens.
Altares laterais e o altar-mor
Os altares laterais são dedicados a diferentes santos, como São Sebastião, Santa Teresinha e São José, todos ricamente ornamentados. Já o altar-mor abriga a imagem de Nossa Senhora da Candelária, esculpida em madeira e ricamente vestida, recebendo destaque especial durante a festa do dia 2 de fevereiro.
O uso de mármores importados de vários países e a aplicação de douramentos demonstram o cuidado e o investimento na decoração interna. É impossível percorrer a nave central sem se deter em cada detalhe — sejam os relevos das colunas, os desenhos das grades de ferro ou o piso com padrões geométricos.
O órgão monumental
Outro tesouro da Candelária é seu órgão, considerado um dos maiores e mais potentes do Brasil. Instalado no coro, ele é utilizado não apenas em celebrações religiosas, mas também em concertos e eventos culturais, reforçando o papel da igreja como espaço de difusão artística.

A Igreja da Candelária e a História Nacional
Ao longo de mais de três séculos, a Igreja da Candelária esteve ligada a momentos decisivos da história brasileira, sendo tanto palco de celebrações quanto testemunha de tragédias.
O Massacre da Candelária
Em 23 de julho de 1993, a Igreja da Candelária foi palco de um dos episódios mais tristes e emblemáticos da história recente do Brasil: o Massacre da Candelária. Naquela madrugada, oito jovens em situação de rua foram brutalmente assassinados a poucos metros do templo, em um crime cometido por grupos de extermínio ligados a forças policiais. Esse acontecimento chocou o país e ganhou repercussão internacional, denunciando a grave situação da violência urbana e a vulnerabilidade extrema das crianças e adolescentes em situação de rua no Rio de Janeiro.
O massacre revelou não apenas a impunidade e a negligência das autoridades, mas também expôs um problema social urgente que perdura até hoje. A partir desse evento, a Igreja da Candelária tornou-se símbolo da luta pelos direitos humanos e pela proteção das populações mais vulneráveis.
Anualmente, são realizadas missas e eventos em memória das vítimas, fortalecendo a memória coletiva e o compromisso com a justiça social. O local passou a ser ponto de encontro para organizações e movimentos sociais dedicados à defesa da dignidade, da cidadania e da segurança dos jovens em situação de risco.
Para saber mais detalhes sobre o massacre e seu impacto, confira esta matéria completa sobre o Massacre da Candelária.
Eventos religiosos e civis
Durante o período imperial brasileiro, a Igreja da Candelária destacou-se como um importante centro religioso e social, recebendo visitas ilustres da família real portuguesa, incluindo Dom João VI e a imperatriz Teresa Cristina. Essas visitas reforçaram o prestígio da igreja, consolidando-a como um dos principais templos do Rio de Janeiro. Além da presença da realeza, a Candelária também acolheu diversas autoridades estrangeiras, que reconheceram sua imponência arquitetônica e seu papel fundamental na vida religiosa e cultural da capital imperial.
Com a proclamação da República, a igreja continuou sendo um palco central para celebrações religiosas, como missas solenes, festas de santos padroeiros e eventos ligados ao calendário litúrgico católico. Paralelamente, tornou-se um local importante para eventos cívicos e manifestações culturais, servindo frequentemente como ponto de encontro para procissões, marchas e manifestações populares.
Essa relação profunda com a população carioca ultrapassa o âmbito estritamente religioso. Mesmo aqueles que não seguem a fé católica reconhecem o valor histórico, arquitetônico e cultural da Igreja da Candelária. Ela é vista como um símbolo da cidade, um monumento que conecta passado e presente, fé e cultura, e que representa um patrimônio coletivo de todos os moradores do Rio de Janeiro, independentemente de suas crenças pessoais.
Curiosidades que Pouca Gente Conhece
Mesmo sendo amplamente conhecida, a Igreja da Candelária guarda curiosidades que surpreendem até moradores do Rio de Janeiro.
- Mais de 130 anos de obras — a construção começou em 1775 e só foi considerada finalizada no início do século XX.
- Trinta tipos de mármore — vindos de países como Itália, Portugal e Bélgica, usados no piso, altares e revestimentos.
- Esculturas em bronze e mármore de Carrara — importadas diretamente da Europa para garantir qualidade e sofisticação.
- Referência náutica — durante o século XIX, a cúpula da Candelária servia como ponto de referência para navegadores que chegavam ao porto do Rio.
- Cenário de produções audiovisuais — a igreja já apareceu em novelas, filmes e reportagens internacionais, especialmente por seu valor estético e histórico.

Turismo Religioso: Como Visitar a Igreja da Candelária
A Igreja da Candelária é um dos pontos obrigatórios para quem deseja explorar o centro histórico do Rio de Janeiro. Sua localização é estratégica, próxima a atrações como o Museu do Amanhã, o Theatro Municipal e o Boulevard Olímpico.
Endereço: Praça Pio X, s/n – Centro, Rio de Janeiro – RJ
Acesso: Fácil por metrô (estação Uruguaiana), ônibus e VLT.
Horário de funcionamento: Geralmente de segunda a sexta, das 7h às 16h, mas pode variar em feriados e datas especiais.
Entrada: Gratuita.
Dica para fotógrafos: A luz da manhã é ideal para capturar a fachada, enquanto no interior a melhor iluminação é obtida no meio do dia, quando a luz atravessa os vitrais.
Além da visita autoguiada, é possível participar de missas e eventos musicais. Guias turísticos credenciados também oferecem passeios que incluem a Candelária no roteiro do centro histórico.
Importância Cultural e Religiosa
Em 1938, a Igreja da Candelária recebeu o título de patrimônio protegido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), um marco que assegurou sua preservação para as gerações futuras. Esse reconhecimento não apenas garante a integridade arquitetônica e artística do templo, mas também reafirma sua importância como um bem cultural de valor inestimável para a cidade do Rio de Janeiro e para todo o Brasil.
Do ponto de vista religioso, a Candelária permanece como um dos templos católicos mais significativos da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Todos os anos, no dia 2 de fevereiro, data dedicada a Nossa Senhora da Candelária, o templo recebe milhares de fiéis em celebrações que unem tradição, devoção e fé. É um momento em que a história se mistura com a espiritualidade, reforçando o vínculo da igreja com a comunidade.
No campo cultural, a Candelária é um espaço dinâmico e plural. Além de suas funções litúrgicas, abre suas portas para concertos, apresentações musicais, exposições e eventos que unem arte e cidadania. Assim, cumpre um papel duplo e essencial: é, ao mesmo tempo, um santuário de fé e um centro cultural ativo, que pulsa no coração histórico e simbólico da cidade do Rio.
Conclusão
A Igreja da Candelária é muito mais do que um marco arquitetônico do Rio de Janeiro — ela é um elo entre passado e presente, fé e cultura, história e identidade nacional. Erguida a partir de uma promessa feita em alto-mar, tornou-se um dos mais belos exemplos da arquitetura religiosa no Brasil, misturando estilos como barroco, neoclássico e eclético em perfeita harmonia.
Ao longo de mais de três séculos, testemunhou eventos marcantes, desde cerimônias imperiais até tragédias como o Massacre da Candelária, que a transformaram também em símbolo de luta pelos direitos humanos. Seu interior, ricamente ornamentado, com afrescos, mármores raros e um órgão monumental, é um verdadeiro museu de arte sacra vivo.
Para turistas, representa uma parada obrigatória no centro histórico, oferecendo uma experiência que combina contemplação artística, reflexão espiritual e contato com a memória da cidade. Para os cariocas, é um lugar de devoção, resistência e orgulho.
Preservada pelo IPHAN, a Igreja da Candelária continua a inspirar gerações, reafirmando seu papel como patrimônio do Brasil. Visitá-la é mergulhar na alma carioca, descobrir histórias que atravessam séculos e sentir a força de um espaço onde tradição e modernidade convivem em perfeita sintonia.
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O que você precisa saber sobre este produto
Ano de publicação: 2022.
Com índice: Não.
Capa do livro: Mole.
Gênero: Religião e espiritualidade.
Subgênero: Religião.
Manual.
Número de páginas: 96.
Idade mínima recomendada: 12 anos.
Dimensões: 15.5cm largura x 23cm altura.
Peso: 180g.